A depressão é uma das doenças mais comuns, a nível mundial e em Portugal. Dados de investigação indicam que uma em cada quatro mulheres e um em cada dez homens, possam vir a ter um episódio depressivo durante a sua vida.
A Organização Mundial da Saúde estima que, até 2030, a depressão irá ser a doença mais comum a nível global, afectando mais pessoas do que qualquer outro problema de saúde, incluindo cancro ou doenças cardiovasculares.
Uma perturbação depressiva é uma doença que envolve o corpo, o humor, os comportamentos e os pensamentos. Afecta a maneira como a pessoa come e dorme, o comportamento, a visão que tem de si e o modo de pensar sobre as coisas.
O que a depressão não é:
- “Estar em baixo” ou simplesmente triste, como acontece várias vezes ao longo da vida, em situações como perdas, lutos ou insucessos
- Um sinal de fraqueza pessoal
- Motivo de vergonha
- Uma situação que se possa resolver de forma voluntária, as pessoas deprimidas não conseguem simplesmente controlar os seus pensamentos e atitudes e ficar melhores
- Uma doença incurável ou crónica
O seu diagnóstico passa muitas vezes despercebido, quer por falta de reconhecimento da depressão como doença, quer porque os seus sintomas são atribuídos a outras causas (doenças físicas, stress, etc.). Sem o tratamento apropriado, os sintomas podem manter-se durante semanas, meses ou anos; no entanto, o tratamento correcto beneficia a maioria das pessoas deprimidas.
Embora a característica mais tipica dos estados depressivos seja a proeminência dos sentimentos de tristeza ou vazio, nem todos os doentes relatam essas sensações. Muitos referem, sobretudo, a perda da capacidade de experimentar prazer nas actividades em geral e a redução do interesse pelo meio externo.
Estes são os principais sintomas de uma depressão:
- Sentimentos de tristeza e de vazio
- Perda de interesse e prazer nas actividades diárias
- Diminuição da energia, fadiga e lentidão
- Irritabilidade, tensão ou agitação
- Sensações de aflição, preocupação com tudo, receios infundados, insegurança e medos
- Perturbação do apetite (com ou sem variação de peso)
- Perturbação do sono
- Perturbação do desejo sexual
- Pessimismo e perda de esperança
- Sentimentos de culpa, de auto-desvalorização e ruína
- Alterações da concentração, memória e raciocínio
- Sintomas físicos não devidos a outra doença (ex. dores de cabeça, perturbações digestivas, dor crónica, mal-estar geral)
- Ideias de morte e tentativas de suicídio
A origem da depressão, está longe de ser totalmente compreendida. Muitos casos de depressão ocorrem após determinados eventos “stressantes”, no entanto nem todas as pessoa ficam deprimidas nessas circunstâncias. A probabilidade de certa pessoa vir a sofrer de uma perturbação depressiva depende de uma complexa interacção entre factores biológicos, psicológicos e sociais (ver figura).
Existem vários tipos de “depressões” que se enquadram em diferentes diagnósticos clínicos. É muito importante a realização de um diagnóstico correcto, que terá implicações ao nível do tratamento, prognóstico e acompanhamento. Estes são os diagnósticos mais comuns:
- Depressão Major
- Perturbação de ajustamento
- Doença Bipolar
- Ciclotimia
- Distimia
- Depressão pós-parto
- Perturbação depressiva sazonal
- Depressão associada a doença física
- Depressão associada a abuso de substâncias
A maioria dos doentes deprimidos melhoram com o tratamento apropriado. A escolha do tratamento vai depender do diagnóstico, gravidade dos sintomas e preferências do doente. As duas principais formas de tratamento são a medicação (antidepressivos ou estabilizadores do humor) e a psicoterapia (cuja técnica deve ser personalizada à situação clinica de cada doente).
Felizmente, hoje em dia, os tratamentos são cada vez mais eficazes e com cada vez menos efeitos secundários. Podemos assim prevenir as consequências negativas da depressão crónica (não tratada) como as dificuldades laborais, o insucesso escolar, o isolamento, dificuldades cognitivas, rupturas afectivas e, em casos extremos, o suicídio.
Pela sua saúde, não desvalorize o sintomas da depressão! A taxa de sucesso de uma depressão é inversamente proporcional ao tempo de doença não tratada, ou seja, quanto mais se “deixar andar” uma depressão mais difícil será o tratamento.
DG 2013
catarina
7 de Setembro de 2013 at 7:09
Sofro de depressão major e não tem sido fácil. Neste momento estou a atravessar uma boa fase, mas já estive internada várias vezes, por tristeza crónica, nem de mim sabia cuidar. É muito triste. A medicação é a mesma há 2 anos e só agora,me sinto melhor. Mas sei que não vai durar sempre. O perigo está sempre à espreia…
Reflexões de um Psiquiatra
7 de Setembro de 2013 at 10:38
Obrigado pela partilha!
2 anos infelizmente é mais demorado do que o habitual para a resposta a uma depressão. Habitualmente as pessoas começam a sentir-se melhor após 4 semanas do tratamento e muito melhor pelos 3-4 meses.
Mas há, de facto, casos mais complicados e que dão mais luta.
Agora que começa a ver a “luz ao fundo do túnel” é continuar com coragem!
Um abraço e obrigado pela partilha.
Emília
7 de Outubro de 2013 at 20:01
Eu estou há mais de 13 anos com todos estes sintomas
“Sentimentos de tristeza e de vazio
Perda de interesse e prazer nas actividades diárias
Diminuição da energia, fadiga e lentidão
Irritabilidade, tensão ou agitação
Sensações de aflição, preocupação com tudo, receios infundados, insegurança e medos
Perturbação do apetite (com ou sem variação de peso)
Perturbação do sono
Perturbação do desejo sexual
Pessimismo e perda de esperança
Sentimentos de culpa, de auto-desvalorização e ruína
Alterações da concentração, memória e raciocínio
Sintomas físicos não devidos a outra doença (ex. dores de cabeça, perturbações digestivas, dor crónica, mal-estar geral)
“Ideias de morte e tentativas de suicídio
tem dias muito, muito difíceis de passar principalmente quanto tentamos curar nos mas ninguém, ninguém entende a nossa aflição… e acham que é um capricho ou que gostamos de andar infelizes e chamar a atenção para terem pena de nós…é tão angustiante que realmente da vontade de desaparecer…
Reflexões de um Psiquiatra
7 de Outubro de 2013 at 20:16
Olá.
13 anos é de facto muito tempo para se estar assim. Não sei se será o seu caso, mas por vezes existem depressões que são resistentes aos tratamentos mais habituais e se prolongam desta forma. No entanto, estamos a evoluir cada vez mais em termos de técnicas de tratamento, quer sejam medicamentos, psicoterapias ou outras. Mantenha a esperança e não desista de si mesmo.
Infelizmente a presença constante do preconceito e do estigma dificultam ainda mais as coisas, ninguém está deprimido porque quer!
Peça ajuda, fale com o seu médico para procurarem soluções em conjunto.
Cumprimentos
Diogo Guerreiro
Ana Santos
10 de Fevereiro de 2014 at 18:49
Dr, pode explicar qual a diferença entre um antidepressivo e um estabilizador de humor, por favor?
Reflexões de um Psiquiatra
11 de Fevereiro de 2014 at 21:27
Olá Ana,
Um antidepressivo e um estabilizador do humor são dois medicamentos muito diferentes, quer ao nível da sua acção do ponto de vista cerebral, quer em termos de efeitos pretendidos ou mesmo nas suas indicações terapêuticas.
Um antidepresivo utiliza-se sobretudo para tratar as perturbações depressivas e as perturbações de ansiedade.
Um estabilizador do humor utiliza-se para o tratamento da doença bipolar, menos frequentemente para depressões resistentes às primeiras linhas de tratamento ou para controlar a impulsividade.
Um abraço
DG
Joana
22 de Abril de 2014 at 22:46
Infelizmente ja ha quatro anos me foi diagnosticada uma depressao e tem sido muito, muito dificil de debelar. Agora estou em tratamento em hospital de dia e, ao contrario dos multiplos internamentos totais a que fui sujeita nos ultimos anos (um dos quais de oito meses numa clinica psiquiatrica conhecida), estou finalmente a melhorar. No entanto tenho uma ideacao suicida persistente que esta dificil de ceder. Tive de abdicar de tanta coisa devido a esta doenca… O meu marido pediu o divorcio, fui reformada por invalidez aos 28 anos, voltei a viver com a minha mae e tive de desistir do doutoramento. Agora nao sei mesmo o que a vida me reserva. Gostava de um dia acordar e nao ter mais esta nuvem negra sobre a cabeca… Anyway, chega de queixumes! keep up the good work!
Reflexões de um Psiquiatra
25 de Abril de 2014 at 2:30
Obrigado pelo testemunho!
m.
24 de Janeiro de 2017 at 13:43
Infelizmente, a Joana não resistiu à doença. Que fique o alerta para nunca, mas mesmo nunca, desvalorizar a depressão.
Reflexões de um Psiquiatra
25 de Janeiro de 2017 at 14:44
Muito obrigado pelo comentário. É mesmo muito importante estarmos alerta, as consequências podem ser dramáticas se não o fizermos. Melhores cumprimentos. DG
Sofia
19 de Maio de 2014 at 16:56
Boa tarde!
Desde os 18 anos que tenho sintomas depressivos…inicialmente fui acompanhada por um médico de clinica geral, até que aos 23 anos tive mesmo de recorrer a um psiquiatra e ainda bem! Segundo ele, e embora a depressão abranja a maioria das mulheres da minha familia (mãe, avó, tia…), possuo um transtorno obsessivo mas não compulsivo..as minhas obsessões são basicamente medo e pensamentos negativos…quanto mais quero parar de pensar mais eles aparecem… é como se eu tivesse outro eu dentro de mim..às vezes fico cansada de estar sempre a pensar…já tomei medicação e ainda hoje tomo embora de forma reduzida…pergunto-me se isto me acompanhará para o resto da vida..A todos que escreveram neste blog deixo uma frase para vos acompanhar nos momentos piores: “Sou mais forte do que penso, serei mais feliz do que imagino”
Ana Santos
22 de Maio de 2014 at 22:46
Dr. Pode explicar-me porque é tão comum prescrever-se antidepressivos em pessoas que, não se queixando de tristeza e outros sintomas “tipicos” da depressão, mas sim de exaustão, cansaço, estando esgotadas? A doença “esgotamento” existe nos manuais de medicina/saúde mental? Bas juntas médicas, os esgotamento ou mesmo as depressões e outros problemas de foro mental “menos pesado” não costumam ser bem vistas, sendo até encaradas como “frescura” de quem as tem e são dadas altas precocemente. Como lutar contra isto?
E finalmente, o k diferencia uma sertralina de um antidepressivo “normal”?
Reflexões de um Psiquiatra
28 de Maio de 2014 at 16:43
Olá Ana,
Passo a passo:
1 – Pode explicar-me porque é tão comum prescrever-se antidepressivos em pessoas que, não se queixando de tristeza e outros sintomas “tipicos” da depressão, mas sim de exaustão, cansaço, estando esgotadas? R: A Depressão (doença/ síndrome clinico) apresenta uma elevada variedade de sintomas, entre os quais é obrigatório a presença de humor depressivo (ou tristeza patológica) ou anedonia (ausência de prazer nas actividades que habitualmente davam prazer). Um profissional de saúde treinado consegue fazer a diferença entre algo que é “cansaço” ou tristeza “normal” de o que é considerado patológico… O que se sabe é que muitas pessoas que deveriam estar a realizar um tratamento antidepressivo não estão, por outro lado, outras tentam “medicalizar” algo que corresponde a períodos “baixos” da vida…
2 – A doença “esgotamento” existe nos manuais de medicina/saúde mental? R: Não
3 – Nas juntas médicas, os esgotamento ou mesmo as depressões e outros problemas de foro mental “menos pesado” não costumam ser bem vistas, sendo até encaradas como “frescura” de quem as tem e são dadas altas precocemente. Como lutar contra isto? R: Não é suposto que isso aconteça, as doenças mentais, provocam grandes dificuldades Às pessoas que delas sofrem… não sendo a maioria dos casos, por vezes é necessário “parar” por um período temporário, para que se consiga recuperar.
4 – E finalmente, o k diferencia uma sertralina de um antidepressivo “normal”? R: A sertralina é um medicamento da classe dos antidepressivos. Todos eles têm particularidades, não existe propriamente um “normal”.
Abraço
DG
lucileia2525
19 de Agosto de 2016 at 12:05
muito esclarecedor!!