Ao contrário do que muitas pessoas acham, o nosso cérebro é um órgão muito dinâmico e em constante remodelação, consequência das experiências que vamos tendo, do nosso património genético (que não se expressa sempre da mesma forma), dos nossos padrões de comportamento e, por vezes, devido a doenças ou agressões que fazemos ao nosso cérebro (i.e. álcool, drogas, etc.).
Se assim não fosse como poderíamos aprender a tocar um instrumento, a aprender uma língua, a dominar o nosso novo smartphone?
Há alguns tempos pensava-se que o cérebro tinha a sua principal evolução in útero, que continuava a desenvolver-se na infância e na adolescência (ver este post do site psiadolescentes a propósito disto) e que a partir daí tudo permanecia igual até que, com a idade, começava-se a perder neurónios (e a involuir).
Felizmente os neurociêntistas têm vindo a estudar este assunto e percebemos agora que o nosso cérebro nunca para de se remodelar e que apresenta algo chamado “neuroplasticidade”.
Uma das mais importantes descobertas dos últimos tempos é que em determinadas partes do cérebro (tal como o hipocampo, o centro responsável pela memória) não só existe remodelação, mas existe efectivamente crescimento de novas células neuronais durante a vida adulta!
Outra coisa que se descobriu é que doenças como a depressão ou as perturbações ansiosas podem levar uma “plasticidade negativa“, reduzindo o número de células no hipocampo por exemplo ou diminuindo a capacidade de remodelação para adaptação a novas realidades.
Não é de estranhar que uma parte essencial dos sintomas destas doenças façam parte daquilo a que chamamos “sintomas de pertubação cognitiva”: dificuldades de atenção, de memória, de concentração, de capacidade de tomada de decisões, etc.
A investigação sugere também que o tratamento com sucesso da depressão ou das perturbações de ansiedade reverte este processo! O que é uma óptima notícia.
Outra coisa que se descobriu é que o exercício físico e a actividade cognitiva em geral (i.e. socializar, ouvir música, ler um livro, etc.) têm um efeito positivo na produção dos chamados “factores neurotróficos”, que são componentes químicos que estimulam o crescimento e recuperação de células cerebrais!
Aos poucos e poucos vamos percebendo o que se passa neste misterioso mundo que é o cérebro humano. E isto é bom! Ao contrário do que algumas más línguas dizem, a Psiquiatria é uma especialidade médica cada vez mais baseada em conhecimentos científicos, cada vez mais eficaz no tratamento das suas doenças e cada vez menos “assustadora”. E ainda bem que assim é…
Ainda temos muito que perceber, estudar, descobrir… mas sobretudo ainda há muito caminho a fazer na luta contra o preconceito e estigma na doença mental!
E isto não depende só dos Psiquiatras, mas de todos nós.
Um abraço
DG 2013
Para ler mais: http://www.nature.com/npp/journal/v33/n1/full/1301574a.html
Alexandra Santana
7 de Março de 2014 at 1:34
Mais uma excelente partilha! Muitíssimo bem escrito, acessível sem perder de todo a pertinência e “densidade” do assunto! Novamente partilhado nas nossas redes sociais!