Lisboa é uma cidade fantástica. História, luzes, gastronomia, arte, arquitectura, praias… Não é de admirar que seja cada vez mais considerada como um destino de eleição turístico!
No outro dia pus-me a pensar: “e se Lisboa fosse um Psiquiatra?“… Bem sei, parece uma ideia estranha, mas já sabem como são os Psiquiatras… pensam em cada coisa!
Imaginei a Dra. Lisboa a falar com alguém com uma “depressão ansiosa”, queixando-se de tudo o que lhe corre mal, que se sente só, que nada lhe dá gozo, que está ansioso, que a “cabeça não para”… E a Dra. Lisboa a recomendar o seguinte plano terapêutico:
Um dia anti-depressivo e anti-stress em Lisboa:
Primeiro – Comece o dia a ver o nascer do sol no Parque das Nações, respire o ar fresco da manhã, observe os reflexos de luz no mar da palha, escute o sons dos pássaros e das ondas… pense “este dia vai ser diferente“!
Segundo – Faça uma corrida aeróbica desde a Torre Vasco da Gama até ao Oceanário. Está comprovado que exercício fisíco melhora os sintomas depressivos (ver esta revisão da Cochrane).
Terceiro – Apanhe o metro e saia na Baixa/Chiado. Ligue a um amigo/a e encontrem-se para tomar um Brunch (o que não faltam são escolhas nesta zona). Fiquem a conversar sobre “tudo e sobre nada”, diga mal do seu patrão, do seu namorado/a, da sogra, dos políticos, do cão do vizinho… Deite isso tudo cá para fora e depois refastele-se e relaxe! Estudos comprovam que a interacção social reduz sintomas depressivos. A seguir vá tomar um café com o Fernando Pessoa para ganhar energias pois o dia terapêutico continua.
Quarto – Vá ver a vista ao Miradouro de São Pedro de Alcântara, o dia já estará a aquecer e o sol mais forte. Sabia que a exposição à luz solar está directamente associada à produção de serotonina? (Um neurotransmissor responsável pelo controlo dos nossos estados afectivos, ver este artigo). Continue descendo pelo Elevador da Glória, que desde 1885 continua a ajudar os alfacinhas a superar esta colina da cidade.
Quinto – Agarre na máquina fotográfica (ou no telemóvel) e divirta-se a encontrar o melhor ângulo para captar aquele promenor do Rossio ou do Terreiro do paço. Ou então agarre num bloco e desenhe algo que o atraia. A chamada “arte-terapia” é um bom adjuvante de qualquer terapêutica. Aconselho esta leitura, do qual cito: “Apreciar algo belo, só por si, melhora o estado de espírito, cria bem estar. Mas fazer algo belo, faz ainda melhor: tem um efeito libertador“.
Sexto – Vá comer um snack e tomar uma bebida refrescante, enquanto aprecia a vista no novo espaço de Lisboa entre o Cais Sodré e a Ribeira das Naus. Sabia que o ácido fólico e a vitamina B12 ajudam no tratamento da depressão? Aproveite para folhear um livro, ouvir uma música ou telefonar a um amigo.
Sétimo – Apanhe o mítico “eléctrico 28“, veja a Sé Catedral de Lisboa, o marco da fundação da cidade após a tomada aos mouros, construída no século XII. Desça no Miradouro de Santa Luzia cuja vista se estende sobre os telhados do bairro de Alfama. Observe o reboliço da cidade e pense em todo o movimento das famílias, das crianças, dos comerciantes, dos turistas, dos casais de namorados. Veja o rio Tejo em toda a sua grandiosidade. Faça uma lista dos seus problemas e guarde-a para outra altura...
Oitavo – Visite o Castelo de S. Jorge, um testemunho de momentos ímpares da história de Lisboa e de Portugal. Uma prova que certas coisas estão para durar mesmo perante guerras, fogos, terremotos… Tal como na vida de uma pessoa!
Nono – Apanhe o comboio e saia na zona de Belém. Aproveite o momento e entre o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém veja o pôr-do-sol, enquanto saboreia um pastel de Belém. É um dos momentos mais calmos do dia, o ideal para reflexões. Agarre na sua lista de problemas, leia-a atentamente… Quais são os verdadeiramente importantes? Quais aqueles em que pode fazer algo para mudar? Quais os prioritários? É impossível resolver tudo de uma vez, muitas vezes o que acontece é que olhamos para todos os problemas e parecem irresolúveis mas quando olhamos para um de cada vez esta ideia muda! Decida 2 ou 3 coisas que vai fazer diferente a partir de amanhã e comprometa-se consigo mesmo! (Isto é basicamente, de uma forma simplista, a famosa “terapia de resolução de problemas“)
Décimo – Começa a noite, uma nova vida enche Lisboa. Combine com um grupo de amigos, com o seu namorado/a, com o seu marido/esposa e vá sair à noite. Coma numa tasca, vá assistir a um Teatro, vá ouvir música, dance, sorria! Amanhã é um novo dia!
Adoro Lisboa e acho que ela também gosta de nós… É só estarmos atentos!
Abraço e bons passeios
DG 2013
José Manuel Mendes
27 de Maio de 2013 at 15:40
Um dia anti-depressivo e anti-stress, em Lisboa? Missão impossível(na minha opinião).
Para mim, a Primavera e o Verão são horríveis. Não suporto muita luminosidade(tenho de andar sempre, com óculos escuros) e muito menos calor.
Prefiro o Outono e o Inverno com dias frios e chuva( também gosto imenso de neve) mas aí, tenho de ir para a Serra da Estrela.
Para descontrair, nada melhor que um passeio na praia, com o dia cinzento e sem muitas pessoas por perto. Gosto de estar sozinho, fazer coisas sozinho(nã gosto de muletas, nem de guardas-costas).
Gosto da noite( mas não para ir Bares,Pub’s nem discotecas ) posso correr o risco, de me deparar com os pedantes, alpinistas sociais ou os pseudo- vip ( Very Ignorant People) ou ( Vagamente Íntimo do Porteiro), como der jeito ao leitor.
É para ficar em casa. Ouço música, leio, vejo Tv (Programas de Informação e alguns Filmes). Programas ” Pimba ” não. Infelizmente são às paletes.
Best Regards
José Manuel Mendes – Seixal
Reflexões de um Psiquiatra
27 de Maio de 2013 at 17:41
O programa da praia também me parece bem! Cumprimentos.
Ivana
29 de Maio de 2013 at 20:54
Antes de mais parabéns por este site, pois pelo que li até agora, é bastante interessante.
De facto passear só por si é anti-depressivo; colocar Lisboa como plano de fundo acentuará decerto esse efeito, ou não estivéssemos a falar de uma das cidades mais lindas do mundo!
O indivíduo depressivo tende a isolar-se e tem também uma visão egocêntrica do mundo. Caminhar, ver coisas novas e bonitas, tira-lo-há desse isolamento e obriga-lo-há a centrar a sua atenção em algo mais que o seu Eu, contribuindo assim para uma melhoria do humor e uma visão mais colorida da vida.
Felicidades!
Reflexões de um Psiquiatra
29 de Maio de 2013 at 20:59
Muito obrigado. Um abraço!
alexandra Camões
18 de Junho de 2013 at 16:35
Lisboa , é linda e faz muito bem!!!!!!
Reflexões de um Psiquiatra
18 de Junho de 2013 at 18:44
Concordo!!
M.João
18 de Junho de 2013 at 23:55
Adorei! Lisboa é linda e o roteiro perfeito!
Fusível Ativo
28 de Junho de 2013 at 14:51
Este tratamento devia ser receitado uma vez por mês, sempre com percursos diferentes.
Reflexões de um Psiquiatra
28 de Junho de 2013 at 21:47
E aceitam-se sugestões! 🙂
Leonor
23 de Julho de 2014 at 14:40
Parece-me um roteiro fantástico, não fosse o turbilhão de gente… Mas certamente tal não será impeditivo.
Grata pela sugestão.
Nena M.
22 de Maio de 2015 at 21:18
Eu só faria uma coisa diferente neste itinerário tão bom! Iria de bus 28 até à baixa. 🙂
Reflexões de um Psiquiatra
22 de Maio de 2015 at 21:47
boa sugestão, também adoro!
João Henriques
2 de Junho de 2015 at 14:57
Gosto do seu Blog, adoro Lisboa !
Lisboa tem muito de bom felizmente,….. mas infelizmente ainda tanto de mau…e porque gostamos de Lisboa, ainda que fechemos os olhos, ofuscados talvez pela seu maravilhosa luz, como ignorar a praga dos graffitis, o lixo acumulado nas ruas e jardins, os passeios mal cuidados e perigosos para pessoas com alguma deficiência, os edifícios arruínados e sujos de tantas zonas da cidade ? Como ignorar os pedintes e mendigos de Lisboa, os sem-abrigo ? Como ignorar os carteiristas, os vendilhões que quase agressivamente incomodam turistas, visitantes e até locais ? Como ignorar as agressões sonoras dos camiões e buzinas, as agressões visuais dos cartazes publicitários excessivos e dos graffitis selvagens, e as agressões à qualidade do ar que se respira, pelo excesso de motores de combustão ? Tomar consciência de que também há muita coisa a melhorar, poderá contribuir para a aumentar a depressão ? Procurar saber como pode cada um contribuir para essa melhoria pode ou não ajudar a melhorar a depressão e o stress ?
“Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar !”
Reflexões de um Psiquiatra
2 de Junho de 2015 at 22:50
Obrigado João Henriques, há sempre muito a mudar e ignorar não é com certeza a melhor maneira de as mudar… Obviamente que um ambiente salutar nas cidades é promotor de boa saúde mental. Acredito que no futuro poderemos ter mudanças positivas nesse aspecto, com maior consciência da importância dos espaços em que vivemos para a nossa saúde física e mental.
Cumprimentos