massa-cinzentaPor volta dos 6 anos de idade, o cérebro já tem 95% do tamanho que irá ter em adulto. No entanto a substância cinzenta (ver imagem) a parte do responsável pelo pensamento, continua a ficar mais espessa até pelo menos aos 12 anos.

Este espessamento corresponde a ligações que os neurónios fazem uns com os outros, chamadas sinapses, tal e qual como se fosse uma árvore a crescer e criar novos ramos e raízes.

Depois deste pico por volta dos 12 anos o cérebro começa a eliminar as ligações em excesso, preservando apenas aquelas que são úteis para a pessoa, tal e qual como se estivesse a “podar uma árvore”.

A imagem abaixo mostra essas ligações ao longo dos anos, podemos ver que são pouco densas no inicio, aumentam muito na fase final da infância e ficam outra vez mais reduzidas a partir da adolescência.

synapticdensity

Utilizar ou perder!

Dados das neurociências revelam que a fase que ocorre na adolescência, de selecção das ligações entre os neurónios, ocorre baseada num fundamento: “utiliza-os ou perde-os”! Ou seja, os neurónios e as ligações que são utilizadas pelo cérebro irão sobreviver e “florescer”, os que não são utilizados irão atrofiar e possivelmente ser eliminados.

Portanto se o adolescente passa muito tempo a utilizar o cérebro em actividades como desporto, música ou estudar, essas ligações cerebrais ficam fortes… melhorando as suas capacidades futuras como adulto. Se o adolescente passa o tempo no sofá, a ver televisão, a jogar jogos, serão essas as células que irão permanecer…

sculptorNa realidade esta fase pode ser considerada como uma fase de “escultura” do cérebro e o artista é o próprio adolescente! E todos sabemos que não é o tamanho que faz uma escultura ser uma obra de arte, mas sim o cuidado, precisão e a criatividade envolvida. Com o cérebro é exactamente o mesmo!

Durante esta fase de selecção de ligações neuronais o adolescente começa a focar-se nas suas habilidades, sejam estas a arte, o desporto, o estudo ou a música. As escolhas que fizer nesta altura irão reflectir-se quando for adulto.

Isto não quer dizer que adolescentes mais velhos ou adultos não possam desenvolver capacidades novas. O nosso cérebro está sempre “em movimento”. Por exemplo, todos sabemos que um adulto pode aprender a tocar um instrumento ou a praticar um desporto, mesmo que nunca o tenha feito enquanto jovem. No entanto também sabemos que é muito mais difícil e moroso fazer isto quando somos mais velhos! Esta dificuldade acontece porque é preciso fazer novas ligações no cérebro… e quando somos jovens isso é muito mais fácil! As ligações estão lá só é preciso seleccionar.

teen-brainO papel das interacções sociais

Pelo que foi dito até agora parece que estou a sugerir que os adolescentes passem todo o seu tempo a fazer desporto, a escrever poesia, a cantar, a estudar ciências, a ouvir música, etc.

Mas existe também algo muito importante que os neurocientistas também descobriram: estar com os outros, desenvolver relações íntimas, conversar, discutir temas, são provavelmente das melhores atividades para estimular o cérebro. Aliás, é também na adolescência que as nossas capacidades sociais se desenvolvem, e mais uma vez é “utilizar ou perder“!

E qual o interesse disto?

Algumas conclusões podem ser tiradas do que vimos acima:

  1. A forma como o adolescente ocupa o tempo é decisiva neste processo de “esculpir” o cérebro. Um jovem que se ocupa com actividades culturais, artísticas, desportivas, educacionais irá preservar para o futuro muito maior capacidade cerebral!
  2. Este trabalho em curso pode ser prejudicado pela utilização de substâncias tóxicas para o cerébro, como drogas ou álcool.
  3. Passar tempo de qualidade com outras pessoas é um dos melhores estímulos cerebrais! Se os pais querem estimular um adolescente não basta inscrevê-lo em 4 instrumentos, 2 desportos e 5 cursos de línguas… mais vale passarem um fim-de-semana com ele!
  4. Um adolescente que desenvolva as suas capacidades terá no futuro melhores oportunidades (profissionais, académicas, sociais) e estará provavelmente mais protegido de doenças mentais!

Um abraço e não se esqueçam de exercitar o vosso Cérebro! (Neste post anterior existem algumas dicas para este efeito).

DG 2015

Deixe um comentário

Eu sou o Diogo

Bem-vindo ao Reflexões de um Psiquiatra, o meu canto na galáxia da internet, desde 2013. Aqui falo sobre saúde mental, sobre o quotidiano, sobre crises e alegrias. Vou partilhando alguns dos meus pensamentos e tento desmistificar alguns temas da saúde e da doença mental. Sou Médico Psiquiatra, mas também escritor, investigador, pai e marido.

Se quiser espreite o meu perfil no LinkedIn


Vamos conectar?