Acabei recentemente de ler o “Índice Médio de Felicidade“, o segundo romance de David Machado.
O livro conta a história de Daniel, um jovem adulto, que como tantos outros nestes tempos, procura um rumo para dar à sua vida. Um optimista inato que se confronta com uma série de dificuldades que abalam o seu mundo e testam a sua força de vontade. Afastado da sua família, desempregado, falido… Tudo parece conspirar para corromper o seu “plano para o futuro”. Mas não só desta personagem se faz a história, existe o amigo ausente Almodôvar, preso por assaltar uma bomba de gasolina; o Xavier, que não sai de casa há 12 anos (um retrato de uma agorafobia); há adolescentes agressivos e perdidos, que dão asas ao seu sadismo; surge um antigo professor do secundário que se tornou alcóolico e que vive na rua; sem esquecer os filhos do Daniel, que procuram compreender a complexa situação em que vivem…
É um livro que aborda tanto a felicidade como a infelicidade, descreve momentos de optimismo e outros da maior desesperança, que balança entre a persistência e a frustração. É uma obra que leva à reflexão sobre o que somos, para onde vamos, qual o nosso papel na sociedade actual, qual o posicionamento entre carreira e família ou até onde estamos dispostos a ir para perseguir determinados objectivos.
Foi uma leitura que me prendeu logo nas primeiras páginas. Gostei da escrita, da forma como são apresentadas as situações, gostei muito dos diálogos… muitos deles sob a forma de pensamento entre o Daniel e o Almodôvar. A história tem ritmo, acelerando entre momentos absurdos (por vezes surreais) e outros da maior crueza e realismo.
É constante a referência ao “Índice médio de felicidade”, que a personagem principal (o Daniel) calcula e recalcula, sobe, desce, insere variáveis na equação, compara-se com os países desse índice… Mas afinal que índice é esse?
É possível que o autor se tenha inspirado na World Database of Happiness, da Erasmus University Rotterdam, Happiness Economics Research Organization. Que se baseia na seguinte questão : “(Numa escala de 0 a 10) Tomando tudo em consideração, quão satisfeito ou insatisfeito está com a sua vida de uma forma geral e no momento atual?“. Segundo esta medida, o valor médio entre os anos de 2000 e 2009, para a população portuguesa é um singelo 5,7.
Também é possível que David Machado se tenha inspirado no Happy Planet Index, nomeadamente na sua variável Experienced well-being (sensação de bem estar subjectivo), da New Economics Foundation. Que se baseia na seguinte questão: “Imagine uma escada, 0 está na base da escada e representa o pior tipo possível de vida, enquanto 10 está no topo dessa escada e representa a melhor vida possível. De 0 a 10 diga em que degrau está no momento actual“. Segundo esta medida, o valor médio de bem estar subjectivo em Portugal situava-se, no ano de 2012, em 4,9 (entre o Bangladesh e a Namíbia – número 94 de uma lista de 151 nações).
Outra medida é a da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), Better Life Index, nomeadamente na sua variável de satisfação com a vida, que é medida através da seguinte questão: “Numa escala de 0 a 10 qual a sua satisfação com a vida de uma forma global?“. Neste caso Portugal cota 5,0 abaixo da média da OCDE de 6,6.
Mas o que será que isto quer efectivamente dizer?
Não tenho quaisquer pretensões de responder a esta questão… são medidas, variáveis, números… poderão querer dizer muita coisa ou nada. Serão os portugueses realmente menos felizes que a maioria dos outros povos? Ou serão apenas mais pessimistas ou cautelosos nas respostas de “0 a 10”? Não sei… A felicidade é um conceito complexo, provavelmente pouco dado a medidas numéricas simples. Quando penso em felicidade lembro-me sempre desta citação de Thoreau:
A felicidade é como uma borboleta: Quanto mais tenta apanhá-la, mais ela se afasta de si. Mas se dirigir a sua atenção para outras coisas, ela virá e pousará suavemente no seu ombro.
Gostei deste livro que recomendo vivamente.
Boa noite e abraços
DG 2014
PS: Neste link poderão ler uma interessante entrevista dada por David Machado à revista Visão.
Neste link poderão consultar os “mapas da felicidade”, medidos por alguns destes indicadores.