A esquizofrenia é uma das mais graves doenças psiquiátricas, que mais sofrimento trás aos doentes e aos seus familiares, cujo o tratamento é difícil e que tanto prejuízo causa a nível pessoal, profissional, familiar e social. Não vou falar muito sobre o que é a esquizofrenia, mas quero apenas referir que é uma doença mental que afecta cerca de 1% da população. Surge geralmente numa idade jovem (final da adolescência início da idade adulta). Tem 3 grupos principais de sintomas:
- Sintomas positivos: comportamentos e pensamentos que não era suposto existirem, como ideias delirantes, alucinações e desorganização do pensamento.
- Sintomas negativos: sintomas que determinam uma diminuição da actividade normal, como apatia, anedonia, abulia (basicamente estes três termos implicam diminuição da motivação, vontade e prazer em fazer coisas), embotamento afectivo (incapacidade de modular as emoções) e lentificação do pensamento.
- Sintomas cognitivos: os mais comuns são a falta de atenção e concentração e o prejuízo da memória. Estas alterações podem ocorrer mesmo antes do primeiro surto da doença (numa fase que chamamos pródromo) e agravar-se ao longo da doença. Estes doentes têm dificuldade em planear e executar tarefas, em tomar decisões e mesmo a nível de linguagem poderão existir dificuldades.
Para mais informações sobre a doença (esquizofrenia) consultar este link.
Infelizmente o termo “esquizofrenia” é provavelmente uma das palavras que pior se utiliza. A palavra significa literalmente “mente dividida”. O Psiquiatra que cunhou este termo, Eugen Bleuler (1911-1950) pretendia que esta palavra descrevesse “a quebra com a realidade causada pela desorganização de várias funções da mente, tal como o pensamento ou os afectos, que nestes doentes não funcionavam correctamente em conjunto”. No entanto muitas pessoas utilizam frases como “sinto-me esquizofrénico” quando têm “mixed feelings” acerca de algo: “gosto desta pessoa, não gosto desta pessoa”; “quero fazer isto ou não quero?”, etc.
Mas mais grave do que isto são pessoas com responsabilidades elevadas utilizarem o termo esquizofrenia por tudo e por nada, tais como jornalistas e políticos, revelando uma enorme falta de respeito pelo sofrimentos destes doentes e familiares, que já são altamente estigmatizados e vítimas de preconceito.
São lamentáveis frases que aparecem na comunicação social e na internet tais como:
A chamada “silly season” atacou mais uma vez o país nesta fase do ano. Para não variar. Embora os sintomas, desta vez, levem à suspeita de uma afetação adicional: a da esquizofrenia. Não houve um só bicho-careta incapaz de comentários epidémicos originários da crise política gerada a partir de uma coligação governamental alvo de amuos, traições e piruetas. – Por Fernando Santos, no JN de 2013-07-08
O líder parlamentar do PS considerou esta quarta-feira que o Governo e o PSD revelam sinais de “esquizofrenia política” – Por Carlos Zorrinho, citado no CM de 2012-10-31
Ministério da Educação sofre de esquizofrenia política – Por Mário Nogueira, na TVI24 a 2012-07-13
Um país esquizofrénico – Por José Gomes André, titulo de post no blog Delito de Opinião em 2013-02-03.
A meu ver isto revela uma clara falta de respeito pelos doentes, famílias e técnicos de saúde que trabalham com estes doentes! Não haverá palavras melhores? Menos discriminatórias?
Digam que o governo é incompetente, incoerente, ineficaz; gritem que determinada medida é ridícula, não faz sentido ou mesmo… é uma *****!! Mas por favor parem de aumentar o preconceito contra os doentes mentais!! É uma questão de moral.
…Isto é uma daquelas coisas que me deixa furioso (daí a imagem escolhida).
Um abraço furioso a todos (e espero que alguém leia este apelo).
DG 2013
Isabel Margarida Pereira
13 de Julho de 2013 at 16:44
À semelhança da esquizofrenia,o mesmo acontece relativamente ao autismo que é usado como metáfora da falta de relação com a realidade…
Maria Florinda Cordeiro
14 de Julho de 2013 at 10:01
Ao que me parece é a total ignorância da sociedade no que diz respeito aos termos utilizados na comunicação escrita e falada. É o tal “modismo” criado pelos senhores comunicadores sociais, como uma onda envolvente e contagiante. Com isso, um termo exclusivamente médico torna-se um jargão comum na net, na televisão e na opinião pública.
O que a sociedade desconhece é o real significado do termo “esquizofrenia” e ou ser “esquizofrénico”. Usamos palavras que não sabemos o seu real significado, não procuramos saber…nem nos damos ao trabalho de procura-las no dicionário, ou no Google, ou seja lá onde for…só achamos que é “chic” e interessante usa-las porque os grandes detentores da opinião pública as utilizam. Fala-se muito, exaustivamente e sem coerência, essa é a grande verdade.
Alexandra Santana
7 de Março de 2014 at 1:50
“Mas mais grave do que isto são pessoas com responsabilidades elevadas utilizarem o termo esquizofrenia por tudo e por nada, tais como jornalistas e políticos, revelando uma enorme falta de respeito pelo sofrimentos destes doentes e familiares, que já são altamente estigmatizados e vítimas de preconceito.” …Uma grande verdade e sim, que também se verifica no autismo, na tdah, na perturbação de ansiedade (ouço pessoas a falarem de ansiedade e ataques de pânico com imensa descontração cada vez que ficam nervosos ansiosos) enfim.. É o longo caminho que existe a fazer!
P.S. Precisamos de mais pessoas a participar nestes comentários!
Reflexões de um Psiquiatra
7 de Março de 2014 at 21:09
Obrigado Alexandra, também acho. Gostava que a discussão fosse mais acesa!