Um espaço de pensamento e ideias pessoais acerca de saúde mental, quotidiano, crises e alegrias. Por Diogo Guerreiro, Médico Psiquiatra e autor do livro “E quando não está tudo bem?”.
Ontem ouvi uma figura pública dizer, perante uma enorme plateia de pessoas, no Nos Alive, que “por vezes não está ok”! E mais, o Dan Reynolds, vocalista da extremamente bem sucedida banda Imagine Dragons🤘🏻🎶, acrescentou:
👉 “Que devem falar quando estão em baixo, a um amigo, familiar ou, se precisarem com um profissional”
👉 “Que eu tenho um terapeuta, e não sinto qualquer vergonha e vocês também não devem sentir”
💪 “Que não é ser fraco pedir ajuda, é muito corajoso”
👉 E a seguir dedicou a música “It’s Okay (not to be okay)”, às crianças e jovens presentes, para que vivam num mundo melhor em que possam ser quem são e estar como estão, que saibam que às vezes não está tudo bem, mas não faz mal, é possível superarmos se formos verdadeiros com nós próprios!
E é assim, com o apoio de figuras públicas, que se vai falando de saúde mental 🧠💪😉, de maneira eficaz e com grande impacto….
📖 Falo disto no meu livro “E quando não está tudo bem”
🤩 Venham daí mais histórias de superação!
Thanks @danreynolds for openly talking about mental health awareness! 👏🧠
Uma sugestão de banda sonora para estes dias quentes…
Gosto muito deste clássico e, apesar dos múltiplos significados que uma música pode ter, acho que esta letra toca num tema que é o “olhar para dentro” e como por vezes isso é tão difícil. Algo que vejo no meu quotidiano, nas consultas, com amigos, comigo próprio. Mesmo que muitas vezes tentemos ignorar sentimentos, emoções, ressentimentos, fragilidades, enquanto não as encararmos elas vão estar sempre a incomodar-nos (tal como o insecto de que o Bono fala).
Bons dias e boas músicas.
DG 2018
“Starin’ at the sun
Afraid of what you’d find
If you took a look inside
Not just deaf and dumb
Staring at the sun
Not the only one
Who’s happy to go blind…
There’s an insect in your ear
If you scratch it won’t disappear
It’s gonna itch and burn and sting
Do you want to see what the scratching brings
Waves that leave me out of reach
Breaking on your back like a beach
Will we ever live in peace?”
“I know I was born and I know that I’ll die
The in between is mine
I am mine”
Gosto tanto desta música… aqui há alguns dias saiu do baú, numa playlist aleatória, enquanto conduzia. Nada como ser lembrados que só há duas coisas certas: que surgimos nesta vida e que dela iremos sair. Mas que o meio é nosso… Que é no Presente que vivemos. É interessante como as expressões artísticas, neste caso a música, tantas vezes se aproximam do trabalho que fazemos em Saúde Mental. Muitos dos doentes que sofrem de perturbações da ansiedade ou depressões, se queixam de preocupações e receios com o futuro ou, por outro lado, ruminam e angustiam-se por situações do passado. Uma das coisas que qualquer terapia tenta fazer (quer seja uma psicoterapia, ou a prática de mindfulness, por exemplo) é aproximar a pessoa do presente, realçar a necessidade de viver uma coisa de cada vez, de se ser sincero consigo mesmo… de se responsabilizar pelas suas decisões, por arriscar… por viver este “meio”, pois o único sitio onde se pode ser feliz e estar tranquilo não é no ontem, não é no amanhã, mas sim no hoje.
Adoro esta música de Radiohead, e muito nos fala sobre o sofrimento, a angústia de uma psicose.
A psicose é definida como a incapacidade de distinguir entre a experiência subjectiva e a realidade externa, ou seja, existe uma perda de contacto com a realidade!
Please could you stop the noise,
I’m trying to get some rest
From all the unborn chicken voices in my head
What’s that?
What’s that?
A psicose é um estado incompreensível para quem está “de fora” é, de todo, impossível perceber o modo de pensar de alguém psicótico, tudo é estranho e nada faz sentido.
Os sintomas mais comuns de psicose são os delírios e as alucinações.
Delírio – convicção falsa e inabalável, fora do contexto social e cultural do doente, de origem mórbida, não sendo possível modificar através da demonstração do real.
Ex: Um doente que acredita que os “extraterrestres lhe implantaram um chip no cérebro para o controlar”. Não cede a qualquer argumento dizendo que isso é impossível, chega a fazer uma TAC de Cérebro que não mostra qualquer chip e mesmo assim defende-se dizendo que “a tecnologia extraterrestre é muito avançada e não é possível detectar na TAC”.
Delírio persecutório ou paranóia – é a forma mais comum de delírio, com ideias delirantes de prejuizo e vivência de que existe uma agressividade contra o doente. O doente sente-se ameaçado, atacado, incomodado, prejudicado, perseguido ou vitima de uma conspiração, envenamento ou tentiva de morte (in Manual de Psicopatologia)
Alucinações – Experiências perceptivas (sensações) tomadas por reais na ausência de estímulo externo correspondente. Para o doente é impossível distinguir as alucinações das verdadeiras percepções. Podem ser auditivas (vozes), visuais (pessoas, vultos, imagens), sensitivas (toques, calor), olfactivas (cheiros) e gustativas (sabores).
Ex: O mesmo doente de cima ouve as “vozes de Marte, que lhe dizem o que deve fazer” e ao mesmo tempo, quando não lhes obedece, sente calor na cabeça, o que interpreta como “o chip a queimar-lhe o cérebro”.
Para além destes sintomas é frequente observar-se
Comportamentos estranhos – que podem ser causados pelos delírios (ex: entrar numa loja e vasculhar todos os recantos à procura de microfones), pelas alucinações (ex: as vozes obrigam-no a andar sempre com as mãos na cabeça), ou mesmo pela doença causadora da psicose.
Isolamento social – a maioria destes doentes acaba por se isolar, deixa a escola, o emprego, deixa de estar com os amigos.
Desconfiança – é possível que desconfiem dos outros, que sintam que eles fazem parte de uma conspiração ou que o querem matar.
Alterações de personalidade – muitas das vezes existem alterações marcadas da maneira de ser, por exemplo determinada pessoa muito extrovertida, conversadora e que gostava de sair à noite, pode ficar muito virada para dentro, deixar de socializar, ter medo de falar com os outros.
Alterações do humor – tanto depressões, como euforias podem ser vistas associadas a psicose. Outras alterações podem ser a incapacidade de ajustar o humor ou a labilidade emocional.
Desorganização – pode ser vista a nível do pensamento ou das acções. Parece fazer “coisas sem sentido” ou pensar de forma não lógica.
O que pode causar uma “Psicose”?
O termo psicose refere-se a um conjunto de sintomas, em que o principal organizador é a perda de contacto com a realidade. Múltiplas doenças e perturbações podem apresentar-se como psicose, na adolescência estas são as mais frequentes:
Esquizofrenia: tem habitualmente o seu começo na adolescência tardia e só muito raramente aparece antes da puberdade. É uma doença crónica, que afecta cerca de 0,5% da população, apresenta múltiplos sintomas psicóticos.
Depressão: em casos graves de depressão é possível apresentar sintomas psicóticos (ex: ouvir vozes que dizem que a pessoa é um fracasso; ter um delírio em que a pessoa acha que já morreu).
Doença bipolar: tanto na depressão, como na fase de mania é possível estar psicótico (ex: um bipolar em fase maníaca pode ter a convicção delirante que é um profeta).
Drogas: A causa mais frequente de psicose durante a adolecência é o abuso de drogas. O abuso de drogas como Cannabis (Marijuana), LSD (Ácidos), Metanfetaminas (Speeds, Pastilhas), Ecstasy e Cocaína (crack), pode levar ao aparecimento de um quadro psicótico, por vezes prolongado e que pode evoluir para Esquizofrenia. Fica o exemplo: estudos indicam que o uso de cannabis aumenta o risco de psicose entre 2 a 9 vezes! Muitos utilizadores de cannabis sentem sintomas psicóticos ligeiros após fumarem, por exemplo, notam que na rua as pessoas olham para eles de maneira diferente (delírio de auto-referência).
O que fazer?
Muitas vezes, as pessoas que sofrem de psicose não reconhecem que estão doentes, muitos não irão pedir ajuda pois tem medo de ser rotulados como “malucos”. Se conhece alguém que pensa estar psicótico, deve levar essa pessoa a um profissional de saúde o mais rapidamente possível.
Existem riscos próprios à psicose, por exemplo, o doente pode matar-se porque as vozes lhe disseram para fazer isso ou pode atirar-se de uma janela porque acha que pode voar. Para além disto a psicose está associada a doenças que, se não forem tratadas rapidamente, podem evoluir para formas crónicas e com “degradação cerebral”.
Existem tratamentos eficazes para a psicose, quanto mais cedo melhor!
Sempre gostei desta música… Ainda por cima faz parte da banda sonora de um filme mítico da minha infância: Dois Homens e um Destino. E quem se atreve a dizer que não é uma música inspiradora?… Se as há, esta é uma delas!
Fala sobre os dias menos bons, “em que nada parece encaixar” (And just like the guy whose feet are too big for his bed, nothin’ seems to fit), em que parece que chove só para nos chatear… e BJ Thomas, conclui que não vale a pena preocupar em demasia, afinal “nunca vou parar a chuva só por me queixar”… para além disso, “não tardará até que a felicidade me venha dizer olá” (It won’t be long till happiness steps up to greet me).
“E mais nada!”
Um fim-de-semana bem disposto, mesmo que chuvoso!
Abraços
Diogo
PS:Aqui fica a letra completa:
Raindrops keep fallin’ on my head And just like the guy Whose feet are too big for his bed Nothin’ seems to fit Those raindrops are fallin’ On my head, they keep fallin’ So I just did me some talkin’ to the sun And I said, I didn’t like The way he got things done Sleepin’ on the job Those raindrops are fallin’ On my head, they keep fallin’ But there’s one thing I know The blues they send To meet me won’t defeat me It won’t be long till Happiness steps up to greet me Raindrops keep fallin’ on my head But that doesn’t mean My eyes will soon be turnin’ red Cryin’s not for me ‘cause I’m never gonna stop the rain by complainin’ Because I’m free, nothin’s worryin’ me It won’t be long till Happiness steps up to greet me A raindrops keep fallin’ on my head But that doesn’t mean My eyes will soon be turnin’ red Cryin’s not for me ‘cause I’m never gonna stop the rain by complainin’ Because I’m free, nothin’s worryin’ me
Cláudio Abbado, 80 anos. Antigo diretor do Scala de Milão, da Ópera de Viena, ex-maestro principal na Orquestra Sinfónica de Londres, na Filarmónica de Berlim e também maestro convidado da Orquestra de Chicago.
Para além de ser um enorme e reconhecido artista, durante a sua vida teve um papel importantíssimo na divulgação da música clássica, sobretudo entre jovens e marginalizados. Acreditava que a formação musical era na realidade “a educação do homem”.
Para todos os leitores do blog seguem os meus desejos de um Feliz Natal e um 2014 cheio de esperança, felicidade e amor. E claro… que o bom humor e a boa disposição vos acompanhem!