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Quando o pânico se instala…

09 Fev

A perturbação de pânico é muito frequente, tendo uma prevalência estimada de 2 a 3% em adolescentes e adultos. Tal como a maioria das perturbações de ansiedade é mais frequente em mulheres (2 a 3 vezes mais) e é uma perturbação que se inicia habitualmente em idades jovens (tipicamente na segunda ou na terceira década).

A sua característica principal é a ocorrência de ataques de pânico repetidos e inesperados, durante um período de pelo menos 1 mês, associados a medo e preocupações intensos relativos à sua recorrência ou implicações.

mcqueenpan61Uma coisa que poucos sabem é de onde surge o nome “pânico“… E é incrível que se fala de pânico desde a antiga Grécia! De facto uma das figuras mais conhecidas da mitologia grega dá origem a este nome: o semideus Pan (o deus dos bosques, dos campos, dos rebanhos e dos pastores). As lendas dizem que Pan vivia nos trechos solitários que separavam as cidades-estado gregas, e que era travesso! Uma das diversões favoritas de Pan era a atormentar os viajantes que atravessavam estas estradas solitárias. Pan ficava à espreita, escondido no mato, à espera de suas vítimas e quando um viajante passava perto do seu esconderijo, começava a tortura. Fazendo sons nas trevas, remexendo nos arbustos, criava uma sensação de apreensão no pobre viajante. Então este começava a correr, a fugir, e Pan corria à sua frente através da floresta, aguardando no próxima curva escura do caminho. Lá voltava ele aos seus gritos, barulhos, induzindo no viajante o terror. Por esta altura a pobre vítima iria começar a respirar mais profundamente, o seu coração começava a bater forte, e os sons dos seus próprios passos acelerados seria ampliados na quietude da floresta para se assemelharem aos de um animal selvagem que o perseguia. Mais um farfalhar dos arbustos, mais um uivo assustador e o viajante fugia a sete pés o mais rápido que conseguisse ao longo do trajeto da floresta escura e estreita. Que nenhum viajante entrasse nos seus bosques sem experimentar uma onda de apreensão, assim fazia Pan para manter os intrusos humanos fora do seu reino. Daqui surgiu o termo pânico.

Os ataques de pânico são períodos breves de medo ou desconforto intenso, acompanhados de vários sintomas físicos e psíquicos de ansiedade, tais como: palpitações; sudorese; tonturas; sensação de falta de ar ou engasgamento; tremor; desrealização (sentir que o mundo é irreal, como num sonho) ou despersonalização (sentir-se desconectado de si mesmo). Tipicamente os ataques de pânico chegam à sua intensidade máxima em 10 minutos e duram cerca de 30 a 45 minutos. Habitualmente as pessoas que sofrem de um ataque de pânico pensam de forma catastrófica, achando que vão morrer, que estão a “ficar loucos” ou que estão a perder o controlo.

Ter um ataque de pânico não significa que se esteja perante um diagnóstico de perturbação de pânico, estes podem ocorrer em pessoas sem qualquer doença em situações de grande stress, podem ocorrer no contexto de determinadas fobias (por exemplo, medo de falar em público pode desencadear ataques de pânico), no contexto de abuso de substâncias (cannabis ou cocaína por exemplo) e podem ocorrer em determinadas doenças físicas (como por exemplo no caso de problemas de tiróide, na asma, em certas arritmias cardíacas). Assim sendo é de grande importância fazer um bom diagnóstico diferencial.

O que origina a perturbação de Pânico?
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Sabemos hoje que esta doença é causada por uma “desregulação” do nosso sistema de alarme interno. Estudos de neuroimagem cerebral sugerem a hiperatividade dos centros do medo (que têm como função ativar o nosso organismo perante ameaças para entrar em modo de luta ou fuga) caso da amígdala, do tálamo, do hipotálamo; verifica-se também uma desregulação do controle respiratório no tronco encefálico, assim como hiperreatividade do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal.

Vários fatores foram implicados na génese da perturbação de Pânico: genéticos (o risco é 5 vezes maior nos parentes de primeiro grau); ambientais (até 80% dos pacientes relatam ter sofrido eventos negativos importantes em suas vidas antes da manifestação inicial dos ataques); psicológicos (é comum observar-se sensibilidade à ansiedade, ou a tendência a interpretar os sintomas físicos de forma errónea como perigosos).

Como se trata?

Trata-se de uma situação de óptimo prognóstico. É comum relatar taxas de cura acima dos 90% quando a situação é manejada de forma óptima. As modalidades de tratamento de primeira linha incluem fármacos (inibidores seletivos de recaptação de serotonina ou inibidores da recaptação de serotonina-noradrenalina) ou psicoterapia (habitualmente cognitivo-comportamental).

Aqui fica uma breve síntese sobre a perturbação de pânico, espero que seja útil.

Um abraço

DG 2015

 

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2 responses to “Quando o pânico se instala…

  1. lucileia2525

    11 de Agosto de 2016 at 14:05

    Estou gostando demais desse blog que utiliza uma linguagem acessível a todos principalmente a leigos como eu. Estava procurando um conteúdo assim como o seu e confesso que não existem tantos assim na internet. Essa iniciativa é ótima e mostra como você tem paixão pelo que faz, não parece ser um Médico mercenário e ainda reserva um pouquinho do seu precioso tempo para falar em questões tão importantes. Estou enfrentando algumas dificuldades pessoais e esse blog tem me ajudado muito a refletir e raciocinar melhor. Obrigada!

     

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