Após estas longas semanas de retiro para me preparar para a defesa da tese… voltei!
A defesa correu muito bem, o júri aprovou (com louvor e distinção) o doutoramento. Senti-me muito feliz, pois todos estes anos de trabalho como investigador, com todos os desafios inerentes, foram recompensados. E a recompensa não foi o título de “Professor Doutor”, mas sim o reconhecimento de ter feito algo válido e importante, que poderá contribuir para uma melhor saúde dos adolescentes, tal como para quebrar preconceitos na área dos comportamentos autolesivos na adolescência e que poderá também contribuir para melhorar as estratégias de intervenção e prevenção nestes jovens em risco.
Os afetos encheram a sinistra Aula Magna da Faculdade de Medicina de Lisboa. Marcaram a sua presença colegas, amigos, família, curiosos e até uma minha paciente (e amiga). E isto, a uma terça feira de manhã! Mas não só de presenças físicas estava cheio o anfiteatro, estavam lá todos aqueles que em mim acreditaram, aqueles que muito me ajudaram e aqueles que me inspiraram… e que, mesmo que não tenham conseguido ir, estavam lá… Foi tão bom sentir a vossa energia e apoio.
O Júri foi impecável, do alto do seu conhecimento, criticaram de forma construtiva, sugeriram ideias para novas direcções de investigação… Perguntaram muito aquela matreira questão “e agora”? Foram 2h30 de discussão, sempre cronometrada pelo Presidente do Júri. E algo aconteceu que me surpreendeu. O stress desapareceu em 15 minutos e a partir daí algo extraordinário ocorreu: comecei a ter um prazer enorme em estar a falar sobre o meu trabalho, a defender aquilo em que tanto investi, a certa altura as provas tornaram-se numa discussão científica interessantíssima entre pares.
Não é fácil o “viva voce” (provas públicas de defesa), existe um envolvimento muito grande por parte dos investigadores durante muito anos no seu projecto e, ao chegar a esta fase; é o tudo por tudo. O querer mostrar que fizemos um trabalho científico de qualidade, o desejo de estar à altura das expectativas (dos colegas, do orientador, do júri, mas também da família e amigos, que tanto foram negligenciados nestes últimos anos). Foram dias prévios de muito stress, a dormir pior, com o peito apertado (sim a ansiedade também acontece aos psis). Por vezes vinham pensamentos fantásticos do género: “eu não vou lá amanhã… vou já tratar de emigrar para a Nova Zelândia” ou o clássico “a minha tese afinal está uma porcaria, o que é que eu fui fazer!?”…. Dois dias antes recebo uma chamada do meu orientador, que me tranquilizou imenso e em que me obrigou a parar de estudar ou rever a matéria! Foi um óptimo conselho, obrigado Prof!
O que é certo é que no dia, na hora de entrar naquele anfiteatro, ladeado por um lado pelos amigos, família, colegas e no outro lado, por seres estranhos, vestidos nas suas togas, que lançavam olhares de cima para baixo, o meu coração estava “apertadinho”. Fiz a minha comunicação de 15mn (sim, tão pouco tempo!) e preparei-me para o que aí viesse. Numa pequena e apertada mesa, a um nível bem mais baixo do que o júri, mas com a convicção de que não me deixaria ser atropelado! E assim foi!
Durante 2h30 discutimos, falamos, concordamos, discordamos. Surgiram ideias novas, projectos e novos desafios.
Como já tinha dito, passados 15mn o stress foi desaparecendo e surgiu o gozo, o prazer. Afinal, isto é o meu trabalho, dediquei-me muito a isto, investi doses brutais de energia, por vezes à custa de passar menos tempo com amigos e família, e obviamente não iria deixar qualquer júri destruir o meu investimento. Tal não aconteceu, mais uma vez refiro, o júri foi fantástico, senti que discutia com os membros como um par, em que a minha opinião era pedida e utilizada na sua própria reflexão.
Quando terminou… respirei (tenho um amigo que gravou todo o audio da defesa da tese, mas ainda não tive coragem de ouvir). Os júris foram deliberar, mas já estava cheio de abraços e beijinhos, fotos, momentos… Até nem ouvi quando fui chamado à sala de conferência, onde recebi a tão desejada nota e os cumprimentos dos meus distintos novos colegas da Academia.
E agora isto já está, mas ainda existem muitas pontas soltas (tratar de fazer relatórios para entidades competentes, divulgar, tratar de revisões de artigos, etc…). Com calma, tudo irá ao sitio.
E quando uma aventura acaba, eis que se inicia uma nova outra aventura!
Mais uma vez obrigado a todos!
Para os interessados a tese pode ser consultada aqui: GuerreiroDF_2014_tese
Fica também um artigo do JN que saiu no dia da defesa da tese referente a dados da mesma: JN 29Abril2014 Autolesao na adolescência
Um bem-haja para todos!
Diogo Guerreiro
quatropataseumacrina
8 de Maio de 2014 at 19:27
Uma grande experiência processada de forma muito positiva!!
Reflexões de um Psiquiatra
8 de Maio de 2014 at 21:22
Obrigado Alexandra.