Aqui há uns dias estava a conduzir e passou a seguinte musica do John Mayer: “My stupid mouth”. E começa assim:

sorryMy stupid mouth has got me in trouble

I said too much again

To a date over dinner yesterday

And I could see she was offended

She said “well anyway”

Just dying for a subject change

(…)

How could I forget

Mama said “think before speaking”

No filter in my head

Oh, what’s a boy to do?

I guess he better find one soon

E veio-me à mente o seguinte: vejo muitos pacientes (mas não só, também amigos, também eu próprio) que têm problemas graves a nível interpessoal, constantes discussões com o marido/esposa, com os chefes ou colegas de trabalho, com amigos; pessoas que se envolvem em espirais de conflitos crescentes, que a certa altura já nem se percebe onde começou a desavença; amigos de longa data que por qualquer coisa (habitualmente uma pequena coisa que um deles fez mas que nem se apercebeu) quebram algo tão importante como uma amizade; casais que se amam e que se zangam sem conseguir fazer as pazes

E depois lá recorrem ao psicólogo, ao psiquiatra, à terapia de casal ou familiar… Queixa-se disto, daquilo, imaginam que depois da consulta sairá um veredicto sobre quem têm ou não têm razão.

…Nada mais errado, estes técnicos não fazem juízos (pelo menos os de qualidade), para isso existem os tribunais! (E uma consulta não é um tribunal).

Todas estas situações são mais fáceis de resolver do que o que se imagina, basta usar a palavra mágica: DESCULPA.

Mas já dizia o Elton John, “Sorry seems to be the hardest word“. É verdade, por vezes é muito difícil pedir desculpa e é uma palavra que utilizamos muito pouco!

Todos erramos, todos os casais, amigos, famílias, colegas, etc. fazem por vezes coisas que magoam, que irritam, que chateiam. Não há excepções, todos erramos…

Então porque não evitamos as chatices pedindo desculpa?

Muitas vezes por orgulho (estúpido), porque não percebemos que magoámos o outro, porque temos vergonha, porque simplesmente não estamos habituados… ou, porque somos masoquistas (espero que esta hipótese se aplique a poucos!).

Gostei muito desta frase retirada deste post: “A genuine apology offered and accepted is one of the most profound interactions of civilized people. It has the power to restore damaged relationships, be they on a small scale, between two people, such as intimates, or on a grand scale, between groups of people, even nations. If done correctly, an apology can heal humiliation and generate forgiveness“.

Gostaria de acabar esta reflexão com um desafio para todos: usem mais a palavra desculpa.

E eu começo primeiro por pedir desculpa aqueles que magoei e nunca pedi desculpa!

Um abraço a todos…

…e boas músicas sempre!

http://youtu.be/ikgP9u751B4

Respostas de 6 a “Desculpa: porque é tão difícil?”

  1. Avatar de Maria Izabel da C.A. Machado Baptista
    Maria Izabel da C.A. Machado Baptista

    Interessante a letra da música e a reflexão gerada. Gostei.
    E, para quando, uma rfelexão sobre aqueles que parecem “pedir desculpa por simplesmente existirem?!”

    1. Avatar de Filipa
      Filipa

      Subscrevo a sugestão da Maria Izabel. E até agora tenho gostado das reflexões que tenho lido do autor do blogue. Obrigada.

  2. Avatar de Rui
    Rui

    Pessoalmente não tenho problemas em pedir desculpa. Mas poucas vezes resolve seja o que for. A maioria das vezes a outra pessoa pensa que o mal já está feito, chegando mesmo a dizer a célebre: “As desculpas não se pedem, evitam-se”, ou “não vale a pena pedires desculpa”. O ideal era realmente cada um perceber e evitar para depois não ter de pedir, nem infligir algo de mau no outro. O que tem a dizer disto?

    1. Avatar de Reflexões de um Psiquiatra

      Ocorre-me dizer que todos falhamos, porque somos seres humanos e isto é mesmo assim. Por isso às vezes não se consegue evitar magoar os outros e aí é bom pedir desculpa. 😉
      Abraço

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Eu sou o Diogo

Bem-vindo ao Reflexões de um Psiquiatra, o meu canto na galáxia da internet, desde 2013. Aqui falo sobre saúde mental, sobre o quotidiano, sobre crises e alegrias. Vou partilhando alguns dos meus pensamentos e tento desmistificar alguns temas da saúde e da doença mental. Sou Médico Psiquiatra, mas também escritor, investigador, pai e marido.

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