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DSM-5: controvérsias e o risco de “etiquetar os doentes”

14 Maio

labelsEstá prestes a ser publicada a nova versão da “Bíblia psiquiátrica” – a DSM-5, o manual de diagnóstico de doenças mentais da Associação de Psiquiatria Americana.

Não querendo cair em extremos não posso deixar de afirmar, pelo que foi até agora divulgado, que a nova versão deste manual deixa muito a desejar. Mantém-se no fundo como um dicionário, em que através do agrupamento e somatório de sintomas se chega a um diagnóstico/ rótulo/ etiqueta, deixando para a quase irrelevância as particularidades individuais e sociais das pessoas doentes, tal como os processo da doença (os mecanismos, a genética, a fisiopatologia, os achados imagiológicos e laboratoriais, etc.). Fica aqui o site da DSM-5, para formularem as vossas próprias opiniões.

Esta nova edição tem levado a reacções diversas e múltiplas controvérsias. Uma que me chamou a atenção é que está aqui noticiada: http://www.nimh.nih.gov/about/director/2013/transforming-diagnosis.shtml. Nada mais, nada menos, que a principal instituição responsável pelo financiamento da investigação psiquiátrica nos EUA, o NIMH – Nacional Institute of Mental Health – que diz o seguinte:

“Patients with mental disorders deserve better”.

“NIMH will be re-orienting its research away from DSM categories. Going forward, we will be supporting research projects that look across current categories – or sub-divide current categories – to begin to develop a better system”.

Concordo plenamente!

Apesar disto não posso desvalorizar o papel das classificações actuais na homogeneização da nomenclatura psiquiátrica. Antes do seu aparecimento ninguém se entendia nesta área, todos os técnicos e escolas tinham os seus nomes para as doenças, falava-se de coisas iguais com nomes diferentes, ou diferentes com nomes iguais ou, pior que tudo, os técnicos não conseguiam comunicar entre si porque não sabiam do que o outro estava a falar.

O grande problema clínico, para além do grande problema a nível de investigação acima descrito, é que algumas pessoas, habitualmente com menos experiência na área, tentam encaixar o doente nestes rótulos estritos, dando muito pouca importância a elementos que estão fora destes dicionários. Isto leva, evidentemente, a que se veja apenas “uma parte e não o todo”, com potenciais consequências negativas a nível da relação terapêutica, tratamento e prognóstico.

Torna-se cada vez mais clara a necessidade de uma boa base psicopatológica (aproveitando aqui para recomendar o livro em que participei recentemente – “Manual de Psicopatologia“) e científica (sobretudo na área das neurociências, mas também da farmacologia, da neuro-imagem, da imunologia, etc.) por parte dos técnicos que intervém na doença mental.

Citando: “Os doentes mentais merecem melhor…”, e completando: …não são etiquetas!

Abraços

DG 2013

 

PS: Deixo este artigo para complementar a leitura.

 

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