Um espaço de pensamento e ideias pessoais acerca de saúde mental, quotidiano, crises e alegrias. Por Diogo Guerreiro, Médico Psiquiatra e autor do livro “E quando não está tudo bem?”.
Após 6 vagas de covid, lá apanhei o bicho 🦠🤒. Felizmente, parece que as vacinas funcionam bastante bem e apenas tive sintomas ligeiros, estando no bom caminho para uma recuperação total 😀.
Cumprir a semana de isolamento foi algo desafiante, com miúdos em casa, uns positivos, outros negativos… mas lá se foi gerindo e estamos todos bem.
❗️Mas, de qualquer modo, aconselho todos a protegerem-se deste vírus pois, por vezes, isto não corre assim tão bem. ❗️
Esta paragem forçada no trabalho até teve alguns pontos positivos: li, estudei, escrevi, vi uns bons filmes, recuperei horas de sono e fui gerindo algumas situações dos meus doentes através dos meios digitais (teleconsultas, email, prescrições on-line), que tanto facilitam a vida nos dias de hoje (ainda sou do tempo em que os médicos prescreviam receitas à mão, com vinhetas e carimbos e claro… com letra ilegível que só os farmacêuticos percebiam) 👨⚕️😅.
Regresso esta quinta às consultas presenciais.
Até breve, abraços e Obrigado pelos desejos de melhoras. 🙏
O bicho da moda, há mais de 2 anos, conseguiu apanhar-me. 😔🦠
Irei ficar uma semana em isolamento e, por isso, lá se vão desorganizar as minhas agendas. 😬
Peço, desde já, desculpa pelo inconveniente aos meus pacientes (talvez seja possível gerir algo via teleconsulta, mas, pelo menos até quinta vou ficar “de molho”🤒).
As melhoras para mim, vou cuidar de me recompor rápido 💪🙏.
Por vezes é fácil perceber que alguém está deprimido pela sua face, expressões ou postura. 😔🥺
Mas, nem sempre! Muitas pessoas que sofrem de depressão aprenderam a “disfarçar” e tantos utilizam “máscaras” para fingir que “está tudo bem”. 🙂🤨
⚠️ Ora, isto é apenas uma nota para não caírem na tentação de dizer a alguém, que vos diz estar a passar por um mau bocado, algo do género: “Mas tu pareces ótimo… não deve ser assim tão grave…”.
⚠️ Mas também para quem coloca “estas máscaras” eu deixo um conselho: se possível não o façam! Eu percebo as razões que motivam a fazer isto, mas o gasto de energia que é preciso para alguém deprimido por uma cara feliz e/ou agir como se não fosse nada é brutal! E toda a energia que sobra quando se está em baixo, que não é muita, deve ser dirigida para a sua própria recuperação e autocuidado. Baixar a máscara até pode ser útil para as pessoas próximas: para que percebam e possam ajudar.
De vez em quando ele encontra-se comigo, ou eu com ele, numa livraria, numa conversa, num paciente que me pede para o assinar. São momentos em que sinto imensa gratidão por ter tido esta oportunidade e pela recepção tão positiva que tem tido.
É cada vez mais importante que se fale abertamente sobre saúde mental, sobre as alturas em que não está tudo bem, em como podemos prevenir ficar doentes e como ser ajudados de forma eficaz. Acho que este livro é um pequeno contributo para esta abertura, para a discussão aberta de saúde e doença mental e para a quebra de estigmas e preconceitos.
👉 Se já leram, enviem as vossas opiniões, digam se foi útil. Nestas coisas dos livros nacionais é muito importante (e difícil) a divulgação, por isso fico-vos grato se o avaliarem nas plataformas dos livreiros (wook, Fnac, Bertrand, etc.) ou no Goodreads.
Conto convosco para chegar à 3a edição e estarmos todos cada vez mais à vontade e atentos para estes temas. Porque isto da depressão e ansiedade não são situações raras, pelo contrário!
Não há saúde sem saúde mental. 🧠💪
Abraços 🙏
Diogo Guerreiro
📖 “E quando não está tudo bem? Como (re)conhecer e agir na ansiedade e na depressão”, publicado em Dezembro de 2021 pela Ego Editora. Com prefácio do Professor Daniel Sampaio e ilustrações do Luís Santos.
Gosto tanto desta frase do psicanalista britânico Donald Winnicott (1896-1971):
Para Winnicott, cada ser humano tem um potencial inato para crescer de forma saudável, ter maturidade emocional e capacidade de integração. No entanto, o facto desta tendência ser inata não garante que isto aconteça de facto. Isto dependerá de um ambiente facilitador que forneça os cuidados e atenção que cada um precisa. Estes cuidados dependem da necessidade de cada criança, pois cada ser humano responde ao ambiente de forma individual, apresentando, a cada momento, condições, potencialidades e dificuldades diferentes.
E cabe a cada pai, mãe ou cuidador, saber encontrar estas necessidades, pelo menos de forma suficientemente boa (pois perfeitamente, sem erros, não é possível).
Também nos cabe a nós, como adultos, sermos suficientemente bons para nós próprios.
Acabei, recentemente, este livro 📖. Não conhecia o autor, Fredrik Backman, mas fiquei com vontade de ler os seus outros romances.
“Gente ansiosa” é uma história altamente criativa, com personagens incríveis e cheia de momentos surreais. É sobre assaltos a bancos, reféns, ansiedades, fogos de artifício e, claro, idiotas.
Fala também de coincidências e de como perfeitos desconhecidos podem ter tanto em comum.
Aconselho vivamente esta leitura, de que vos deixo um excerto que gostei particularmente:
“Talvez nos tenhamos cruzado hoje, com pressa no meio da multidão, sem darmos por isso, e as fibras do seu casaco roçaram no meu por um instante fugaz, e seguimos caminho. Eu não sei quem você é. Mas quando chegar a casa mais logo, quando o dia terminar e a noite se instalar, pare e respire fundo. Porque nós também chegámos ao fim deste dia. E amanhã haverá outro.”
Por vezes não sentimos, mas estamos sempre a ser empurrados para baixo.
Seja a escalar uma montanha, a deslizar num skate, a subir no elevador…. estamos sempre a ser empurrados para baixo.
Os cientistas chamam a isto a lei da gravidade. “Do ponto de vista cosmológico, a gravidade faz com que a matéria dispersa se aglutine, e que essa matéria aglutinada se mantenha intacta”, diz-me a Wikipédia.
Talvez daí o chão seja por onde se inicia a construção de uma casa, nas fundações, nos alicerces. Afinal, queremos que a nossa casa permaneça intacta e sólida.
Acho que ao nosso ser as leis de Newton também se aplicam. O quotidiano pesa-nos, o crescimento pesa, uma discussão parece impelir-nos para as profundezas da terra.
Penso muito nisto do chão, sobre a segurança (ou insegurança) a ele inerente. Mas o que é o “chão” do nosso “ser”?
Aqui as coisas complicam-se.
Será a segurança de saber que temos valor próprio? Será o saber que com a nossa força, com o nosso corpo, podemos desafiar a gravidade? Será o saber que somos amados?…
O chão é abstrato ou algo concreto? Poderemos mensurar se estamos a pisar um terreno sólido ou a cair em areias movediças?
À procura da segurança se descobrem muitas das nossas inseguranças. Talvez o chão seja simplesmente o chão, afinal, nunca se ouviu falar de alguém que tenha sido absorvido para o centro da terra porque, magicamente, tenha desaparecido um pedaço da crosta terrestre.
Há pessoas que têm sonhos recorrentes em que se sentem a cair, numa queda sem fim. Provavelmente, representando a sua própria insegurança em relação a si mesmos.
Como encontrar a tranquilidade de saber que pisamos terreno sólido? Se calhar não faz sentido a questão em si. Ou talvez a resposta seja: o chão varia, o nosso ser varia, os contextos variam. Mas não iremos, com certeza, ser absorvidos pelo vácuo.
Poderá ser que a tranquilidade e a segurança advenham de aceitar as coisas como são. Afinal a “matéria aglutinada mantém-se intacta”.
Se não pensarmos na gravidade não a sentimos. E o peso dissipa-se, o chão fica mais sólido… talvez sempre o tenha sido.
O meu livro “E quando não está tudo bem: como (re)conhecer e agir na ansiedade e depressão” já está na sua segunda edição!
Parece que esta boa recepção traduz a necessidade de compreenderemos o que é isto de estar ansioso ou deprimido e, sobretudo, de como reagir perante estas situações, assim como encontrar formas de prevenir e de saber como lidar.
Fico contente com este sucesso e com o facto de poder ajudar as inúmeras pessoas que contactam com estes problemas.
É habitual existir a expectativa que a época natalícia é, por si, uma altura feliz. Afinal é uma altura de celebração, de recomeços, de proximidade com as pessoas de quem gostamos. Mas, isto não corre sempre de acordo com o esperado. Sentir-se mais deprimido (ou ansioso) no Natal é algo, efetivamente, frequente.
Existem várias razões pelas quais isto pode acontecer, todo o rebuliço e stress desta altura, as mensagens constantes de felicidade (no matter what), o suposto reaproximar de amigos e familiares, podem colocar pressão acrescida em pessoas que estão em estado de fragilidade. Ou porque se sentem estranhos por “estar toda a gente feliz e eu não”, ou porque a angústia ou solidão que sentem é ainda mais vincada nesta fase… Isto pode acontecer apesar de não estarem nestes momentos sozinhos, muitas vezes sentir-se só na presença dos outros é uma experiência terrível.
Não nos podemos esquecer que os lutos, as separações ou as perdas não respeitam datas festivas. Tal como quando se está a sofrer de uma depressão ou de outra perturbação mental, é mesmo difícil sentir-se “feliz como é suposto”.
Quando se está deprimido ou ansioso é difícil aproveitar as ocasiões festivas. Não é possível forçar-se alguém (nem a si mesmo) a “estar bem”.
Algumas coisas podem ajudar:
Manter o autocuidado, tomando bem conta da sua saúde física e mental.
Aceitar que as coisas são como são. Se este ano não se sente assim tão bem, não faz mal.
Tente combater a solidão. Prefira a companhia de pessoas com quem se possa sentir à vontade, que saibam o que está a passar e com que pode partilhar este momento sem que se force a colocar a “máscara de está tudo ótimo”.
O álcool é um depressor, não se esqueça disso e consuma-o com moderação.
Luz solar, desporto, meditação, são estratégias que podem ajudar. Que tal um passeio na natureza nesta época festiva?
Liberte-se de expectativas, de procurar ter tudo perfeito ou de agradar a toda a gente.
Dê a si mesmo uma prenda de natal. Uma coisa ou uma atividade que seja algo que goste realmente.
Aproveito para desejar umas boas festas e uma serena entrada em 2022 a todos os seguidores deste blog.