Recentemente foi-me pedido para fazer uma comunicação sobre os comportamentos autolesivos, o tema da minha tese de doutoramento. Nunca é demais falar e aprender sobre este tema, que é tão complexo e importante na área da saúde mental.
Queria deixar-lhe algumas mensagens chave, na forma de Perguntas e Respostas (Q&A), espero que seja útil para a consciencialização do tema.

O que são os comportamentos autolesivos (CAL)?
R: Comportamento com resultado não fatal, em que o indivíduo deliberadamente fez um dos seguintes: iniciou comportamento com intenção de causar lesões ao próprio (ex: cortar-se, saltar de um local relativamente elevado); ingeriu fármacos em doses superiores às posologias terapêuticas reconhecidas; ingeriu uma droga ilícita ou substância psicoativa com propósito declaradamente autoagressivo; ingeriu uma substância ou objeto não ingerível.
Os CAL são comuns?
R: Sim, são situações muito frequentes. Pensa-se que 10 a 18% das pessoas irá ter CAL ao longo da sua vida. Acontecem 2 a 3 vezes mais em mulheres. Verifica-se que a sua incidência tem um aumento significativo a partir dos 12 anos, atingindo um pico entre os 15 e os 19 anos, embora possam acontecer em qualquer altura da vida. Cerca de 50% das pessoas que os fazem tem tendência a fazê-lo de forma recorrente.
Os CAL são relevantes?
R: Sim, sem dúvida. Para além de serem muito frequentes, indicam que a pessoa está em sofrimento mental (ninguém se magoa de propósito quando está bem). Estão associados a aumento substancial do risco de suicídio na adolescência e vida adulta e à redução da esperança de vida (por outras razões que não suicídio). Não são só um problema do individuo, mas também dos seus colegas, das suas famílias e dos contextos que habitam. Nos CAL está descrito o efeito de “contágio social”.
Estão associados a outros problemas?
R: Sim. Nomeadamente a depressão, ansiedade, stress traumático, abuso de substâncias, impulsividade e alexitimia (dificuldade em reconhecer emoções).
Porque razão acontecem?
R: Não há razões únicas, trata-se de um fenómeno complexo e multifatorial. Os investigadores vêm os CAL como uma complexa interação entre fatores genéticos, biológicos, psiquiátricos, psicológicos, sociais e culturais. Sabemos que muitas vezes estão associados a uma forma de lidar com emoções negativas, em que existe pouca capacidade de autorregulação emocional, levando a estes comportamentos extremos.
Muito pouco frequentemente é algo feito apenas “para chamar a atenção”, embora mesmo quando isto acontece é porque a pessoa está em sofrimento e não consegue comunicar de forma mais eficaz.
Quais os fatores de risco mais comuns?
R: Estão associados a experiências adversas na infância, a situações de negligência ou carência, a estruturas familiares disfuncionais e a situações de abuso psicológico, físico ou sexual. Outros fatores que também contribuem: isolamento social, insucesso ou abandono escolar, desemprego ou emprego precário, dificuldades no acesso a cuidados de saúde.
O que fazer nas situações de CAL?
R: Todas as situações devem ser acompanhadas por médicos e psicólogos. Pode ser preciso tratar doenças psiquiátricas como depressão, ansiedade, stress traumático ou outras. Quase sempre é necessário trabalhar em psicoterapia forma de lidar com emoções intensas, trabalhar a autoestima, reforçar a capacidade de comunicar e de pedir ajuda. Infelizmente, muito poucas pessoas pedem ajuda e a maioria dos casos não chega aos profissionais.
Se está a passar por uma situação destas ou se está em risco de suicídio, saiba que pode ter ajuda. Fale com o seu médico, fale com um terapeuta, vá a um serviço de urgência, ligue para o SNS 24 ou para uma linha de apoio.
Um abraço
Diogo Guerreiro







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