Saiu este mês uma artigo científico importante relacionado com a temática do Défice Cognitivo Ligeiro: “Practice guideline update summary: Mild cognitive impairment. Report of the Guideline Development, Dissemination, and Implementation Subcommittee of the American Academy of Neurology” (disponível de forma integral aqui). Este estudo focou-se nas questões de prevalência, transição para demência e eficácia das várias intervenções (farmacológicas e não farmacológicas).
Sobre isto, deixo algumas informações em forma de perguntas e respostas.

Salvador Dalí – A Persistência da Memória (1931)
Antes de mais, o que é o Défice Cognitivo Ligeiro (DCL)?
O DCL é uma condição em que o indivíduo apresenta declínio de uma ou mais funções cognitivas (como por exemplo: memória, linguagem, atenção, planeamento executivo, etc.), mas com consequências mínimas para a sua vivência diária. Para o seu diagnóstico é necessário a presença de queixas subjetivas, mas também de uma avaliação objetiva, preferencialmente através de uma avaliação neuropsicológica (que nos dá indicação da extensão do défice e das áreas afetadas).
Porque é que isto interessa?
O DCL pode ser uma forma de apresentação precoce de uma demência (como por exemplo: doença de Alzheimer), embora também possa ser secundário a várias patologias neurológicas, psiquiátricas, doenças sistémicas ou mesmo, a efeitos adversos de certos medicamentos.
Quando não se deteta nenhuma causa secundária que se possa tratar (e isto já é muito importante pois a tendência destes casos é para o agravamento), sabemos que pacientes com DCL são um importante grupo de risco para quadros de demência (situação de défice cognitivo grave, em que a vida diária fica profundamente afetada e, na maioria dos casos, de forma irreversível).
É comum?
Sim. Aumentando a frequência com a idade e sendo mais comum em pessoas com menor grau educacional. Este estudo agrupou vários dados e chegou à seguinte estimativa de prevalência:
- 60–64 anos: 6.7%
- 65–69 anos: 8.4%
- 70–74 anos: 10.1%
- 75–79 anos: 14.8%
- 80–84 anos: 25.2%
E quantos casos evoluem efetivamente para demências?
Segundo os dados deste estudo, todos os pacientes com diagnóstico de DCL tem um maior risco de progressão para demência que pessoas com a mesma idade e sem este diagnóstico. Cerca de 15% dos indivíduos com mais de 65 anos e DCL, no espaço de seguimento de 2 anos, evoluíram para um quadro demencial. Apresentando um risco relativo de demência (incluindo doença de Alzheimer) cerca de 3x superior às pessoas sem DCL.
No entanto, alguns casos revertem (ao contrário do que acontece nas demências), ficando sem padrão de défice cognitivo, tendo sido estimado que isto acontece entre 14 a 50% das pessoas.
Infelizmente, apesar de muitos desenvolvimentos na investigação nesta área, ainda não existem biomarcadores que possam prever com precisão quais os doentes que irão evoluir para demência (pelo que análises ou exames de imagem ainda não são úteis para este efeito).
E afinal, o que pode ajudar?
É muito importante a avaliação precisa do caso e a sua monitorização ao longo do tempo (afinal estamos a falar de um grupo de risco para doenças graves). Também muito importante é modificar fatores de risco que são os mesmos para DCL ou para Demências, nomeadamente:
- Fatores de risco cardiovasculares: sedentarismo, tabagismo, alterações do metabolismo do açúcar (controlo da diabetes), alterações do metabolismo dos lípidos (dislipidémias).
- Fatores relacionados com o sono: as perturbações do sono estão muito relacionadas com estes quadros (ler mais sobre a importância de uma boa noite de sono)
- Diagnóstico e tratamento da depressão: a depressão não tratada está associada também a défices cognitivos e a um risco maior de DCL e demência.
- Rever medicamentos que possam interferir com a cognição.
- Fatores dietéticos: muitos idosos apresentam uma nutrição com falhas que poderá estar associada a pior prognóstico. Uma alimentação diversificada, incluindo vegetais, fruta e peixe, é fundamental.
Infelizmente nenhum medicamento (incluindo os medicamentos utilizados nas demências) demonstrou ser eficaz para a prevenção da evolução para demência.
Por outro lado, algumas estratégias não farmacológicas, mostraram resultados muito promissores (ao nível de ajudarem na prevenção), nomeadamente duas:
- Exercício físico regular.
- Treino cognitivo.
Ou seja, mais uma vez a velha máxima mente sã em corpo são se aplica, não sendo demais salientar a importância do desporto (estimular o corpo) e de treinar o cérebro (estimular o mente).
Abraços
DG 2018
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