Estive hoje a participar no iPsiquiatria (introdução à Psiquiatria), organizado pela Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho.

empatiaUma das atividades incluía que os formandos (internos em formação de Psiquiatria) fossem expostos a várias situações com que, de certeza, se irão deparar na sua actividade como clínicos. Isto acontecia da seguinte maneira: existiam uma série de atores profissionais, treinados para simular situações como uma perturbação de ansiedade, um episódio maníaco, uma tentativa de suicídio, etc. Numa sala com estes “pacientes” um interno conduzia a entrevista com o objetivo de chegar a uma conclusão ou de determinar certa atitude terapêutica; enquanto que noutra sala um outro grupo (pequeno) observava e ouvia através de écrans (a sala onde decorria a atividade tinha câmara e microfone). Foi interessantíssimo ver como diferentes pessoas abordavam as situações de formas tão dispares, independente de ser mais ou menos correto do ponto de vista teórico.

Foi sobretudo visível que a peça fundamental para os casos que corriam melhor foi a criação de uma relação terapêutica e empática. Já em tempos escrevi sobre isto (ver post aqui) e volto a frisar, a capacidade de empatia, é provavelmente a mais importante característica de qualquer técnico de Saúde. E é necessário criar condições para que esta possa ocorrer, o Médico tem de voltar a ser o Médico e não uma máquina de fazer diagnósticos; não podemos aceitar que sejam impostas consultas de 10mn por ordem ministerial; não podemos aceitar que as pessoas (os doentes) sejam vistos como números, como indicadores; não podemos aceitar ter médicos desgastados por horas e trabalho excessivo que não lhes permitam “ter cabeça” para ouvir e se colocar na pele do doente; não podemos aceitar que se crie um clima artificial de desconfiança entre os médicos e os doentes.

Mais tempo para a relação médico doente implica maior precisão diagnóstico, menor utilização de fármacos por vezes desnecessários, menos probabilidades de a situação agravar ao ponto de levar a um internamento hospitalar.

Lá dizia Abel Salazar: “O médico que só sabe de medicina, nem de medicina sabe”.

Abraços

DG 2015

Uma resposta a “Sobre a comunicação terapeuta doente”

  1. Avatar de Paulla Kosta
    Paulla Kosta

    “O médico que só sabe de medicina, nem de medicina sabe”
    Talvez das profissões que acho mais nobres, a de médico. E esta frase encerra precisamente o que penso. Como doente, não só “mental”, toda e qualquer acção que ponha fim a este estigma é de extrema importância. Que se unam os intervenientes para que tenhamos um serviço nacional de saúde com mais condições para todos – Técnicos e doentes.

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Eu sou o Diogo

Bem-vindo ao Reflexões de um Psiquiatra, o meu canto na galáxia da internet, desde 2013. Aqui falo sobre saúde mental, sobre o quotidiano, sobre crises e alegrias. Vou partilhando alguns dos meus pensamentos e tento desmistificar alguns temas da saúde e da doença mental. Sou Médico Psiquiatra, mas também escritor, investigador, pai e marido.

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